quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

«O Estranho Caso de BENJAMIN BUTTON»


Sinopse:

Na noite da celebração do fim da I Grande Guerra nasceu em New Orleans uma criança com a aparência e a condição física de um idoso de 70 anos.
A progenitora morreu no parto.
O pai, devastado, rejeita a criança abandonando-a à porta de uma casa de acolhimento de desvalidos.
Um casal de negros adopta-a e decide chamar-lhe Benjamin.

Gateau, um relojoeiro cego, é contratado para para construir um relógio à escala da grandiosidade da estação de comboios da cidade.
Para sua infelicidade, o filho é uma das vítimas mortais da Grande Guerra.
Gateau não hesita. Constrói o relógio com o movimento dos ponteiros invertido.

Contexto histórico:

Os primeiros 50 anos da História do Sec. XX foram devastadores pelas sequelas de (i) Grande Guerra 14-18; (ii) Depressão de 1929 e (iii) Grande Guerra 39-45.

Esta perspectiva preenche a primeira fase do filme; a segunda, estende-se desde a década de 50 até 2005: o «Baby-boom», a mudança de estilo de vida, as novas oportunidades, a distribuição da riqueza das nações a proporcionar bem-estar inédito, até ao flagelo de New Orleans pelo Katrina.

É na passagem da primeira para a segunda fase que Benjamin, maduro, fulgurante, vivido, transita das atrocidades do quotidiano para ma socialização amena e cheia de afectos.
Virá a ser pai.
Depois de fazer o seu «Grand Tour», regressa para um último relacionamento com a mulher, já casada com outro homem, preparando assim o início da adolescência, a fase pré-natal a seguir, para que a narrativa da sua mulher à filha de ambos -- Em fase terminal no hospital -- termine antes do Katrina fustigar a cidade.

O Tempo Cronológico e o tempo Biológico:

Gateau não se resignou à morte do filho. Por essa razão, o sublimador encontrado foi a inversão do movimento dos ponteiros do relógio: revisão da cronologia.; o presente, relativamente ao passado, a memória trocada pelo exercício do esquecimento da atrocidade da guerra, da morte de um jovem, fixando-se no tempo de vida do filho, apenas isso contando, enquanto ele foi feliz.

A mãe adoptiva de Benjamin, também não se resignou à impossibilidade de ter uma criança, tratando Benjamin como seu filho natural.
Num sentido equivalente, Benjamin caminha para a concepção, para a combinação «XY», mantendo-se vivo e resplandecente, com os olhos postos nesse «futuro» nesse «grau zero», nesse «eterno retorno», sem arrastar o «bom senso» da experiência, a sageza, o que fosse que tivesse acumulado, nada, absolutamente nada, esvaziando-se determinado para os braços da mulher, de Daizy. Não é que desejasse esquecer, ia acontecendo-lhe não se lembrar...

A Memória, o Esquecimento e o Legado:

Daizy fez questão de se deixar morrer só depois de a filha Carolina aceder a esse legado para que o pai a merecesse orgulhosa, de certa maneira íntima de uma conduta extraordinariamente tenaz, através do Diário.

O filme termina com a inundação de cidade, a morte de Daisy, a emoção de Carolina, o bébé Benjamin nos braços de Daisy, frustrando dessa maneira Woody Allen -- É que seu sonho aplicar-se-ia se Daisy, em vez de ser sua mulher, fosse a mãe de Benjamin. -- que chegou a desejar uma segunda vida que, retrocedendo também, iria mais além «Voilá! -- Desaparecer num orgasmo.»

A ideia de que a felicidade está no começo e não no fim da vida partiu de Mark Twain, foi aproveitada por F. Scott Fitzgerald para escrever a obra (Ed. Presença), foi glosada por W. Allen e, para nosso deleite, exibida neste filme que demonstra que «O tempo é sinal da nossa impotência.» Acrescento eu, com a ajuda de Proust: mesmo que se busque o tempo perdido, jamais se alcançará o tempo reencontrado...

O Diário de Benjamin -- Escrito com zelo de homem de idade -- estaria adequado à sua cronologia? É que a partir de certa idade, um jovem vive. Só excepcionalmente escreverá sobre o seu quotidiano fugaz... Um adolescente, então, só pensará em divertir-se, brincar...

Admito que a comparação seja excessiva: com «Forrest Gump», a História da América era excelentemente contada; com este «Benjamin Button», completa-se uma diliciosa narrativa.

Finalmente: é a primeira fase da nossa vida a melhor ou, a idade madura -- a dos «entas», dos 40 a 60 -- a que proporcionará dias admiráveis?

14 comentários:

Pedro disse...

Agradeço-te, contudo, que mudes a imagem. Tu estás a falar sobre o filme; eu já li o livro e não é a mesma coisa. Aliás, se o chegares a ler verás que não há qualquer ponto igual entre o livro e o filme (não estou a exagerar). Apenas digo isto para as pessoas não induzirem em erro, pensando que estás a falar de um livro que é completamente diferente do que descreves ;)

Quanto ao filme, precisei de digeri-lo. Achei a primeira parte (primeira hora!) demasiado lenta. No entanto, à medida que o tempo passa parece que vou entranhando os pormenores, e acho que se o voltar a ver será um dos meus filmes preferidos.

Adorei esta tua análise. Uma boa comparação entre a história e a História; um bom apanhado dos pormenores de Benjamin Button, da sua vida e das personagens que afectou, assim como da manipulação do tempo.

Quanto à alusão a "Forrest Gump", considero Benjamin Button muito mais rico na vertente romântica. Forrest é muito nacionalista, e não envolve uma teia de personagens tão curiosa, acho. No entanto, adoro ambos os filmes =)

JPD disse...

Olá Pedro

Quando fiz a recolha de imagens no Google esta integrou um conjunto de 5.

Escolhi-a pelo facto de corresponder a um fotograma retirado do filme e aproveitado pela EDITORIAL PRESENÇA como ilustração á edição de livro de F. Scott Fitzegerald (Ainda por ler, sabendo eu que há divergências acentuadas entre a narrativa e o filme)
Eis a razão.

Agradeço teu comentário e a sugestão.

São sempre bem vindos.

Um abraço

vida de vidro disse...

Ainda não vi e, depois de te ler, ficou ainda mais acima na minha lista... **

Anónimo disse...

estou em pulgas para ir ver este filme :) vai ser já este fim de semana! obrigada, duarte. beijinhos

mfc disse...

A melhor idade?!
É a presente, meu Amigo!
... é a única que podemos ter!

vieira calado disse...

Não vi o filme.

Mas agora já posso ter uma ideia.

Obrigado

isabel mendes ferreira disse...

passei quse três horas a chorar...uma "vergonha".

um texto bem adaptado e excelentes interpretações.





o amor. na sua forma mais íntima . com uma banda sonora exemplar.




beijo.


(re.grato)

Carla disse...

que post maravilhoso!
já que posso dar a minha opinião digo que só agora estou a entrar nos "entas", mas confesso que estou a adorar...o futuro se encarregará de me dar razão (ou não)
beijos

mdsol disse...

Mais um post que dá gosto ler!
(estes posts fazem-me lembrar comida caseira... Confeccionados com todo o zelo)
:)))

Alberto Oliveira disse...

José,

Um bom filme, pela temática criativa e pelo trabalho de caracterização de altíssimo nível, provavelmente a arrecadar um Oscar nesta área técnica.

Independentemente de ter atrás de si uma obra literária (que por norma nunca são comparáveis com os filmes e daí o anúncio "... adaptação para o cinema da obra... ") o produto cinematográfico nada fica a perder... neste caso.

Abraço.

Arábica disse...

José Duarte,


muito bom este teu trabalho.

Toda a análise nos leva entre a envolvente e a vida singular de Benjamim.

Quanto à questão final, deveria ser, a idade de ouro, sim; já aprendemos o suficiente para não nos determos no aspecto fisico, já aprendemos o suficiente para fazermos do nosso tempo a alquimica metamorfose do gesto.

Será que a envolvente, contudo, não terá um papel determinante?

Beijo, bom fim de semana.

Justine disse...

Magnífica e completíssima apresentação do filme! Filme que me encantou, me perturbou, me fez pensar: na roda do tempo, nas oportunidades perdidas, na possibilidade de recomeçar sempre, e em qualquer idade!
Bom fds:))

Graça Pires disse...

Não vi o filme. Mas agora fiquei com mais vontade de ver. Quando tiver tempo.
Beijos.

Teresa Durães disse...

Comecei a ver mas ainda não terminei. Vi só o início. Pareceu-m bastante inovador