sexta-feira, 31 de outubro de 2008

«Metafísica»


Gentileza Google



«Que ideia tenho eu das coisas?

Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?


Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma


e sobre a criação do Mundo?


Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos

e não pensar. É correr as cortinas

da minha janela (mas ela não tem cortinas)...»


Alberto Caeiro

domingo, 26 de outubro de 2008

«Amendoeira Em Flor»



Quando a Sara me perguntou «Qual é a vantagem de ter duas casas, uma no Algarve e a outra em Lisboa?», eu pousei o talher de robalo grelhado, suspendi o gesto de mais um gole de vinho branco «Vantagem...»

A resposta óbvia seria a sua presença.
Tal como ela em Caminha, porque o Minho é lindo e a Galiza vizinha, prezo os amigos e faço questão de os receber.

«É na «Amendoeira Em Flor», nesta casa, que vejo o nascer e o pôr do sol. Como prescindir de tamanho sortilégio?»

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Escrever

«Meter a vida num livro, tirar as medidas ao tempo. Escrever é isso. Dar uma dimensão convencional à existência. Manipula-se o tempo para efeitos artísticos e assim se controla, falsamente, secretamente, a própria vida. O tempo corre quando o deixamos à solta. Tem de se caçar na ratoeira -- um rato, o tempo -- de um livro, de um projecto, de uma viagem. O escritor sonha com um livro, com uma mulher, com uma cidade distante e imperfeita. Vamos por entre a neve, por entre a chuva, por entre o nevoeiro, no carro dele, a desfazer gelo e luzes. Aonde vamos?
(...)
O sangue do escritor é o tempo. O sangue do pintor é a luz (...)»

(Pg119/120)

In:
«MORTAL E ROSA»
Francisco Umbral
Ed. Campo das Letras

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

«A FACA NÃO CORTA O FOGO»


Gentileza Google


Não se pode cortar o fogo com uma faca.
-- provérbio grego.


«até que Deus é destruído pelo extremo exercício da beleza»


In:
(Pg.133) de

«A FACA NÃO CORTA O FOGO»
Súmula & inédita


Herberto Helder

Assírio & Alvim

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Felicidade


«(...) A brisa, o brilho do dia, há qualquer coisa que tem de repente o odor e a memória de não sei que paraísos. A música inventa-nos um passado que não conhecemos, disse alguém. Também os aromas, a Primavera, as nuvens nos levam de repente a um passado que não conhecemos. Basta inspirar profundamente para fazer emergir do fundo da terra ou do fundo da memória um tempo que está fora do tempo, uma felicidade impossível de recordar. Dela temos apenas a memória: nunca tivemos a experiência. O homem conhece a felicidade por relatos. Por obscuros relatos interiores. A felicidade não pode estar no futuro, porque vamos sempre buscá-la às recordações, trazemos a sua imagem na memória. A felicidade é algo que aconteceu uma vez. Recordamo-la tão intensa e longinquamente que pertence sem dúvida ao passado da espécie. Mas tudo isto se confunde de forma automática e trasladamos o que é apenas uma vaga recordação para um hipotético futuro. A dita felicidade é inexequível precisamente porque a estamos a recordar. Foi.» (Pag. 163)


In:

«MORTAL E ROSA»
Francisco Umbral
Ed. Campo das Letras


sábado, 4 de outubro de 2008

«O que se passa, Zé?»

Gentileza Google



A minha mulher sonhou que eu tinha morrido.

Ora!


Na madrugada de quinta para sexta, virando-se na cama, sobressaltou-se ao sentir-me tão frio.
Eu estaria na fase do sono paradoxal.
Tocar um corpo que está em perda de temperatura é desaconselhável.
A premonição de viuvez -- Quem aguenta um grito lancinante! -- dilacera.
Sacudiu-me.
«O que se passa, Zé?»


«Não ligues.» Disse Pasternak «Parece que toda a filosofia é um imenso esforço para superar o problema da morte e do destino.»


Eu não estive a morrer.
Mas se estivesse estado à beira da morte não me pareceria mal se me tivesse sido perguntado o que sentira.


Ela aconchegou-se, cingindo-se ao meu corpo, exalando flores de jasmim de Alepo, violetas, flores de romãzeira e narcisos, para que eu soubesse poder repetir «As Mil e Uma Noites.»

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Crítica


Gentileza Google


«Às vezes a gente faz críticas tão desonestas a respeito de uma pessoa que nunca mais consegue acreditar nela.»

*

«Só uma coisa a máquina não é capaz de substituir:
o contribuinte»


In:

«PIF-PAF»
Millôr Fernandes