terça-feira, 27 de janeiro de 2009

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«Ando por aqui a ver se encontro
um homem. Não há nenhum, diz-me a Razão,
"o homem é apenas uma imagem."
Não é, dizem-me os sentidos,
depois de terem convivido com muitos homens
e mulheres. E volto atrás para ver melhor __
e mergulho inteiro nas águas turvas
da humanidade. A transparência
é uma ficção de poetas felizes
e são poucos. Cada homem que vou encontrando
cada pedra cada folha cada gota de água,
um milagre.»

In:

«A Arte de Bem Morrer»
Casimiro de Brito

Roma Editora

15 comentários:

Teresa Durães disse...

o homem não será uma imagem que, quando nos afastamos, deixa de existir?

Isabel disse...

Conheço.O. ao Homem e aoPoeta. que admiro. pela capacidade rara de ser humanista na mais prolixa escrita. mesmo nos haikus que excelentemente domina.


um prazer reler. sempre.



obrigada. com um beijo do


piano.

Pedro disse...

Falas de folhas, de gotas, de pormenores. Mas a mensagem que me transmites fala da humanidade, do Universo, do milagre da existência... Que não se pode chamar milagre, porque simplesmente não sabemos porque é que existe, se existe, se é o que pensamos e se não o é, e o milagre pode não ser tão milagroso quanto isso.

Ah, as questões existenciais!

mdsol disse...

Hoje foi mesmo para nos por a pensar na nossa humana condição...

OUTONO disse...

"A transparência
é uma ficção de poetas felizes
e são poucos."

Ainda estou às voltas com esta frase...misto de verdade e impossível...

Lady disse...

A transparência, existe... realmente, mas tão somente em tão poucos, e há quem diga, qu só os loucos a detém... ;)

Bjinhos

Graça Pires disse...

"A transparência
é uma ficção de poetas felizes
e são poucos". Como tem razão o poeta...
Beijos.

Justine disse...

"Isto" hoje está assim um pouco para o amargo, não está?? A cinzentez dos dias não ajuda muito, mas acho que, mesmo sem lanterna nem milagres, vamos conseguindo encontrar alguns Homens!

Alberto Oliveira disse...

... penso que é mesmo essa arte que eu gostaria de dominar: a arte de bem morrer

é que nem com a de cavalgar toda a sela me atino

resta-me a da rima.

saber morrer eu gostava
com um sorriso no rosto
e toda a gente opinava
mas que morto bem-disposto.

Abraço, José.

Arábica disse...

Mais um livro a ler, José Duarte.

Obrigada por o trazeres até aqui e parabéns pela magnifica escolha de parágrafo.


Eu sempre acreditei que sentir de forma poética era uma faca de dois gumes...


Abraço

Maria Clarinda disse...

E este será sem sombra de dúvida a minha próxima aquisição, já estive com o livro na mão...
Lindo este pequeno texto que mos trouxeste.
Obrigada. Um jinho

Carla disse...

não sei se será apenas uma imagem, mas sei que é um milagre...o da vida, certamente!
fabulosas palavras de Casimiro de Brito
beijos e bom fds

luis lourenço disse...

JPD!

a claridade é dolorosa...e muito difícil quanto á condição humana...
belíssima fulgurãncia do Casimiro...Excelente escolha...a razão tem produzido tantos monstros...

abraços

véu de maya

pin gente disse...

um dia serei transparente.
quando a alma seguir a sua livre viagem.
quando me libertar de um corpo terreno, imposto, condicionado por cinco (ou seis) sentidos. deixarei de me aterrozirar com abismos, falésia, tormentas. saberei viver em paz na luz e no silêncio da solidão. tão bem como entre uma multidão de outras almas tagarelas. mergulharei no futuro banhando-me no presente e em todos os passados. um dia, na minha transparência, serei plenamente feliz.


um abraço

mfc disse...

Cada vez que ouço falar em transparência desconfio logo!