sábado, 29 de março de 2008

VIAGEM

(Gentileza Google)

«Abraço o teu corpo no oceano

da noite; e um barco emerge do teu sexo,

com o seu mastro de fogo,

inundando o teu rosto com a luz

branca do desejo.»

In:

«GEOMETRIA VARIÁVEL»

Nuno Júdice

Dom Quixote


segunda-feira, 24 de março de 2008

De Rousseau ao YouTube

(Imagem: Gentileza Google)

Rabelai queria uma «Cabeça bem cheia»; Montaigne preferia «Uma cabeça bem feita»; Rousseau insistia «O homem é bom por natureza...» apesar da sociedade em que estava inserido. Com a edição de «EMÍLIO» surgiu o primeiro tratado sobre educação; A. Comte sublinhava «O papel da sociedade para formar e reformar o espírito no bom sentido.» (Fonte: Dicionário Larousse Filosofia, entrada «Educação»)

Pergunta: é válido e actual o objectivo da educação, em 1º lugar, instruir; a seguir, adaptar socialmente; depois, formar um juizo livre e pessoal? (Ibidem)

Um «gadget», em gíria tecnológica é um equipamento que tem um propósito e uma função específica, prática e útil, unipessoal e intransmissível, por ser centrípeto, por colocar o seu utilizador no centro do mundo, no largo da aldeia global. Exemplo: um telemóvel.

Havendo vários tipos de autoridade, a que verdadeiramente interessa para o caso é aquela que assenta na competência.

O grau de instrução que a professora da escola do Porto transmite nas suas aulas, podendo ser indiscutivelmente competente, perderá sempre para as expectativas que um telemóvel garante.

E se for multifuncional e puder gravar imagens, então a desvantagem é esmagadora. A aldeia é global. A disputa do «gadget» entre a professora e a aluna não teve a apoteose do directo, é certo, mas foi por um triz!

Os proveitos desencadeados pelas aulas da professora e as emoções decorrentes da utilzação do telemóvel jamais convergirão. Para uma jovem, perder o telemóvel é mais grave do que tirar a chupeta a um bebé ou pedir a um fumador de dois maços de cigarros uma abstinência abrupta. A intensidade da frustração será elevada, repentina ... violenta.

Em «A Identidade» Kudera escreve sobre 3 categorias de tédio: Passivo: a rapariga que dança e boceja; Activo: os lançadores de papagaios; Revoltado: jovens que queimam automóveis, partem montras... ou agridem professores (Acrescento eu).

Há ainda duas outras autoridades: a do medo e a do reconhecimento, claro.


quarta-feira, 19 de março de 2008

O Acordeonista

(Gentileza da Google)
«...A excelência da música
não tem de ser avaliada somente
pela quantidade de
prazer sensível
que proporciona»
Platão
A musica deve ser levada a sério:
. Pelo respeito que o público merece;
. Pela escolha profissional.
Por todas as outras razões também, ensaio até à exaustão para que:
. só eu reconheça as falhas se tivesse parado um dia que fosse!;
. os meus amigos não notem que há dois dias que não pratico;
. o auditório jamais se aperceba que há uma semana que estou parado.
Acautelando as boas práticas, era o que faltava que alguma ruga ou vinco desviassem a atenção do auditório para o mais insignificante e fútil desleixo.
Falta de zelo, nunca!
(Nunca cancelei um espectáculo. Mesmo quando -- às primeiras passadelas -- cheguei a queimar as pontas dos dedos da mão esquerda.)
Boa Páscoa para todos
Deste que os estima
Joaquim Allegro

sábado, 15 de março de 2008

AMANHECER



A.

A casa do Carlos era extraordinária. Virada para o Tejo, oferecia fins de tarde inesquecíveis.
Ele tinha uma orgulho enorme nisso.
Recebia bem.
Empenhava-se.
Zelava.
Estive lá duas vezes: crepuscular, a primeira festa estendeu-se do meio da tarde até de madrugada. Reinou a boa disposição. Correu lindamente. Alvorada, da última vez, ele despedia-se. «Vou para Paris!» Eu ainda sem perceber que viajaria com a Ana «Quem me dera!»
Eu deveria ter apreciado devidamente o nascer do sol.
Não me queixo.
Bebi demais, nessa noite.


B.

A Ana e eu, fomos colegas de liceu. Estivemos mais de um ano sem nos vermos. Conversávamos na varanda quando o Carlos disparou. «Mandar-vos-ei, por mail, as fotos da festa.Valeu!»
A única em que estamos juntos, é um registo de silhuetas. Percebe-se que somos nós. Porém, o que prepondera é amanhecer em Lisboa.
«Ooh i need your love babe/ Guess you know it's true/ Hope you need my love babe/ Just like i need you/Hold me, love me, hold me, love me/Ain't got nothin' but love babe...» «Eight Days a Week» dos Beatles... Naquela noite não se ouviu Beatles. Escolha do Carlos!


C.

A Ana andava desavinda com Raul e achou que eu devia saber. «Porquê?», pensei. Era-lhe premente falar. «O Raul não quis vir. Ao telefone, aceitou o convite do Carlos. Eufórico, disse que sim. Não faltaria. Não veio. Não quis vir. Saiu. Nem sei onde anda. Estive para não aparecer, também.» Estava em marcha a separação. Não havia dúvida. Eu emocionei-me. Sou assim. Gosto tanto da Ana! Para disfarçar pedi-lhe que me esperasse enquanto ia reabastecer-me de cerveja. «Traz-me um Baileys!» Acendi um cigarro, expeli o fumo «Lembras-te dos concursos de argolas de fumo que fazíamos, Ana?» Ela sorriu. «Então, não?! O que nós falámos sobre argolas de fumo! Dá-me um cigarro. Bora lá ver se ainda somos capazes de enviar argolas um ao outro.» Fomos. «Uma vez...» Continuou «Até disseste que a relação entre as pessoas não está apenas naquilo que se constrói, no interior do círculo...» E eu acrescentei «Tão pouco no exterior.» Ela «Mas sim, no próprio círculo!» Quase em uníssono «O que define o interior e o exterior da relação, o que a revigora ou a deixa soçobrar!» Controlada «A tua fase geométrica. Tudo seria susceptível de representação. Aceito! Porém, constrange.» Eu concordei «Ao procurar conciliar a razão e a emoção achava poder representá-las!» Acariciou-me.


D.

A Leonor telefonou a perguntar-me se sabia alguma coisa da Ana e do Carlos. «Não. Não voltámos a falar!» Ela sabia mas não quis dizer -- «Não há pachorra!» -- Depois o telefonema. A Ana, destroçada, confirmava o atropelamento do Carlos como causa da sua morte.

«Em que segmento do círculo estaremos?»
(Imagem: Gentileza da Google)















terça-feira, 11 de março de 2008

«O LAVAGANTE»

«Então expliquei-lhe que o lavagante é principalmente um animal de tenebrosa memória, paciente e obstinado, e terrível nos seus desígnios. Contei-lhe como ele serve o safio que está nas tocas submersas levando-lhe comida a todas as horas, e como a sua existência anda presa a essa serpente estúpida de grandes sonos, vendo-a engordar, engordar, até saber que a tem bloqueada, incapaz de sair do buraco porque o corpo cresceu de mais, enovelou-se, e não cabe na abertura por onde podia libertar-se. Nesse momento, fica sabendo, o lavagante servil aparece à boca da toca do safio mas já não traz comida. Vem de garras afiadas devorar o grande prisioneiro que alimentou durante tanto tempo.» (Pag.16)

Seguem-se os amores de Cecília e Daniel, a Crise de 62, a prisão de Daniel e a sua libertação, a surpresa, o segredo do lavagante.

«...Sei o que joguei, meu amor» lê-se entre outras coisas, numa carta escrita há uma semana por Cecília. «Mas eu não podia suportar por mais tempo a ideia de estares fechado numa prisão, tu que tanto gostas de viver...» (Pag. 86)

Este inédito de JCP está ao nível dos excelentes «O DELFIM», «DINOSSAURO EXCELENTÍSSMO», «ALEXANDRA ALPHA» ou «DE PROFUNDIS, VALSA LENTA»

sexta-feira, 7 de março de 2008

A EDUCAÇÃO OS ALUNOS E OS PROFESSORES


Há uns vinte anos atrás, se calhar até mais, o Jornal da Educação editou uma entrevista a um jovem estudante do Secundário que à pergunta «Que é para ti a escola?» respondeu «É aquela merda ali, atrás de nos!»

Se agora for professor, repetida a pergunta, dará outra resposta. Mas poderá pensar que «Será uma merda com esta reforma da ministra!» Se assim for, Sábado não deixará de estar no Terreiro do Paço.

O Governo reitera que o desenvolvimento do país terá de passar pela Educação. Para tanto, há que motivar os alunos, envolver os pais e empenhar os professores. Desenhou uma reforma que compreende i) Estatuto do Aluno, ii) Estatuto da Carreira Docente, iii) Avaliação de Desempenho e iiii) Gestão Escolar.

O que irritou os professores é a arrogância da ministra e do Governo e a diminuição, perante a sociedade, do relevo social da função.

As negociações entre o Ministério e os Sindicatos nunca foram interrompidas. Porém, a acrimónia, o azedume e o acantonamento em posições irredutíveis acentuou-se com o recrudescimento das manifestações por capital de Distrito, convocadas pelos Sindicatos ou através de SMS até à apteose de Sábado.

Os professores sentem-se inseguros e rejeitam a reforma porque, enquadrada no Regime de Vínculos, Carreiras e Remunerações da Função Publica já aprovado, os ameaça.

Amanhã, Sábado, no T. do Paço ao lado dos professores estarão muitos outros funcionários públicos. Por causa das avaliações. Por tudo resto. Se o Governo recuar na Educação poderá fazê-lo também na Função Pública...

Ao teimar manter a ministra Sócrates manterá o braço de ferro até onde puder. Não pode repetir a ideia de que A Rua fará as remodelações.

Depois do Terreio do Paço o que restará aos professores: Greve Geral da Função Publica?

Institucionalmente que pressões condicionarão o Governo: Imposição de intermediação das negociações da reforma? Pedido de recuo da PR em Belem?

O Governo está tão encurralado quanto esteve Cavaco Silva quando teve de remodelar e prescindir de Leonor Beleza e Miguel Cadilhe.

quarta-feira, 5 de março de 2008

A GAIOLA

A gaiola.



A primeira captura.




Voilá!

«A GAIOLA DE DARWIN»