A casa do Carlos era extraordinária. Virada para o Tejo, oferecia fins de tarde inesquecíveis.
Ele tinha uma orgulho enorme nisso.
Recebia bem.
Empenhava-se.
Zelava.
Empenhava-se.
Zelava.
Estive lá duas vezes: crepuscular, a primeira festa estendeu-se do meio da tarde até de madrugada. Reinou a boa disposição. Correu lindamente. Alvorada, da última vez, ele despedia-se. «Vou para Paris!» Eu ainda sem perceber que viajaria com a Ana «Quem me dera!»
Eu deveria ter apreciado devidamente o nascer do sol.
Não me queixo.
Bebi demais, nessa noite.
B.
A Ana e eu, fomos colegas de liceu. Estivemos mais de um ano sem nos vermos. Conversávamos na varanda quando o Carlos disparou. «Mandar-vos-ei, por mail, as fotos da festa.Valeu!»
A única em que estamos juntos, é um registo de silhuetas. Percebe-se que somos nós. Porém, o que prepondera é amanhecer em Lisboa.
«Ooh i need your love babe/ Guess you know it's true/ Hope you need my love babe/ Just like i need you/Hold me, love me, hold me, love me/Ain't got nothin' but love babe...» «Eight Days a Week» dos Beatles... Naquela noite não se ouviu Beatles. Escolha do Carlos!
C.
A Ana andava desavinda com Raul e achou que eu devia saber. «Porquê?», pensei. Era-lhe premente falar. «O Raul não quis vir. Ao telefone, aceitou o convite do Carlos. Eufórico, disse que sim. Não faltaria. Não veio. Não quis vir. Saiu. Nem sei onde anda. Estive para não aparecer, também.» Estava em marcha a separação. Não havia dúvida. Eu emocionei-me. Sou assim. Gosto tanto da Ana! Para disfarçar pedi-lhe que me esperasse enquanto ia reabastecer-me de cerveja. «Traz-me um Baileys!» Acendi um cigarro, expeli o fumo «Lembras-te dos concursos de argolas de fumo que fazíamos, Ana?» Ela sorriu. «Então, não?! O que nós falámos sobre argolas de fumo! Dá-me um cigarro. Bora lá ver se ainda somos capazes de enviar argolas um ao outro.» Fomos. «Uma vez...» Continuou «Até disseste que a relação entre as pessoas não está apenas naquilo que se constrói, no interior do círculo...» E eu acrescentei «Tão pouco no exterior.» Ela «Mas sim, no próprio círculo!» Quase em uníssono «O que define o interior e o exterior da relação, o que a revigora ou a deixa soçobrar!» Controlada «A tua fase geométrica. Tudo seria susceptível de representação. Aceito! Porém, constrange.» Eu concordei «Ao procurar conciliar a razão e a emoção achava poder representá-las!» Acariciou-me.
D.
A Leonor telefonou a perguntar-me se sabia alguma coisa da Ana e do Carlos. «Não. Não voltámos a falar!» Ela sabia mas não quis dizer -- «Não há pachorra!» -- Depois o telefonema. A Ana, destroçada, confirmava o atropelamento do Carlos como causa da sua morte.
«Em que segmento do círculo estaremos?»
(Imagem: Gentileza da Google)
9 comentários:
vedadeiramente encantada.
bom este re.encontro!
volto breve.
boa páscoa.
com um abraço.
... já tinha saudades das tuas anas
dos desencontros, dos desfechos dramáticos e inesperados
Humm, um relato muito interessante... gostei muito!!!
BJokas
Boa noite.
Sim senhor bons encontros e desencontros, sem duvda que fica registado por qualquer um.
O templo reconhece.
Um abraço fraterno.
Gostei muito de conhecer os teus espaços.
Obrigada pela dica. A senhora tem uma voz magnifica!
Beijinhos.
a vantagem do círculo é copntinuarmos às voltas e voltas sem chegar a lado nenhum.
Completamente dentro.
Certo?
Quem iria ao volante?
estas histórias... saudades eu tinha delas!
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