Duas mãos enluvadas mimando um praticante de basketball ensaiavam sucessivos lançamentos.
Determinadas, executavam a curta, a média e a longa distâncias.
Quando os batimentos de bola baixavam a meio da coxa era o drible que singrava.
Quando os batimentos de bola baixavam a meio da coxa era o drible que singrava.
Três pares de mãos enluvadas, ignorando o par do basketball, estenderam uma rede a meio do ring.
Eram os adeptos de bagmington.Dois pares adversários colocaram-se em campo para disputarem uma partida sob arbitragem do terceiro par, lá no alto, provavelmente no último degrau de um escadote.
No ring há um par de mãos pendidas, em repouso. São as mãos do praticante de basketball. Estão extenuadas ou sem coragem para desafiarem as praticantes de bagmington.
Enquanto cada par de luvas, no respectivo rectângulo de jogo, se excede para suplantar o par adversário, do alto do suposto escadote, o outro par executa uma curiosa coreografia -- quais catetos de um triângulo rectângulo elevando ao quadrado o esforço para encontrar, numa busca quase desesperada, o quadrado da hipotenusa, -- para assinalar pontos ou, interrompendo o jogo, marcar faltas.
Agora reparo, as mãos de basketball estão erguidas. Presumirei bem se pensar que colocando a toalha a volta da cabeça melhor repousarão, desejando ardentemente que, na próxima vez, os amigos que prometeram aparecer não faltem? -- Talvez!
A seguir, as mãos enluvadas baixaram e, antes de repousarem nas coxas, uma delas parece ter sido descalçada.
Todos reparam no gesto.O jogo de bagdmington parou.
O desenho da hipotenusa ter-se-á gorado malogrando o esforço dos catetos.
Uma luva mimando um toque no ombro «Vai uma partida de bagmington, amigo?» antecedeu outra luva apontando o indicador aqui e acolá para designar a constituição de pares.
Era isso mesmo que estava a acontecer.Uma luva mimando um toque no ombro «Vai uma partida de bagmington, amigo?» antecedeu outra luva apontando o indicador aqui e acolá para designar a constituição de pares.
A terceira luva desenhava a rotação de um cilindro imaginário para estabelecer que a constituição dos pares seria rotativa.
No final da segunda partida, a luva de basketball disparou um volei sem resposta. Com o ponto garantido o par venceria a partida. Ninguém duvidava. Porém, a trajectória do volante foi alterada pelo embate de um dióspiro.
Um papagaio, desafiado pela irresistível suculência do fruto, apanhou-o e desapareceu.
Um jovem mimo acabara de encher a boca com um quarto-de-lua de dióspiro. Atrevido, o papagaio roubou-lhe o outro quarto. Não se resignando, o jovem tentou alvejá-lo com a restante metade do fruto.
Deve o jovem alterar o seu desígnio e abandonar a colectividade de Mimos?
13 comentários:
Nem por isso, deve continuar a tentar
O gesto a segurar a imagística!.
beijo.
________________sempre admirativo.
As mãos agarradas ao labirinto do gesto. E do texto...
Um abraço.
Mas que interessante!
:))
Se o jovem tentou tiro ao papagaio com meio dióspiro e não o mimou, então, é capaz de ser conveniente começar a pensar noutra carreira, sim...
O teu texto é um labirinto em que vemos mãos executando gestos relacionados por palavras. Um excelente exercício de escrita.
Quanto ao mimo, bem, pessoalmente não gosto de desistências. **
as mãos...fiéis depositárias dos gestos!
beijos
Como neste momento tenho as mãos geladas, levo as luvas e mais tarde passo para as devolver, posso? :)
Há desistências que são a busca de novos e melhores caminhos.
Quem sabe aqui esta "maxima" também se aplique?
Bom fim de semana Jota, beijos
Tal como no início, o momento de trégua foi efémero.
Um retrato atento da vida.
Tão cinematográfico, tão ritmado que quase chega a um ballet, tão silencioso mas tão significativo.
Belos os gestos,belo o texto
...as mãos! Quanto podem ofertar ou negar...
Muito bom o seu texto!
Beijos de luz...
Dióspiro! Muitos poucos sabem que, de facto, é assim que se deve pronunciar esta palavra. Pelo menos aqui no norte! :-D
Beiijnhos
mimos não desistem... mesmo com metade de um dióspiro.
abraço
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