A minha mulher sonhou que eu tinha morrido.
Ora!
Na madrugada de quinta para sexta, virando-se na cama, sobressaltou-se ao sentir-me tão frio.
Eu estaria na fase do sono paradoxal.
Tocar um corpo que está em perda de temperatura é desaconselhável.
A premonição de viuvez -- Quem aguenta um grito lancinante! -- dilacera.
Sacudiu-me.
«O que se passa, Zé?»
«Não ligues.» Disse Pasternak «Parece que toda a filosofia é um imenso esforço para superar o problema da morte e do destino.»
Eu não estive a morrer.
Mas se estivesse estado à beira da morte não me pareceria mal se me tivesse sido perguntado o que sentira.
Ela aconchegou-se, cingindo-se ao meu corpo, exalando flores de jasmim de Alepo, violetas, flores de romãzeira e narcisos, para que eu soubesse poder repetir «As Mil e Uma Noites.»
17 comentários:
É bom ouvir essa voz...
Que coisa bonita, JPD! Valeu a pena a esposa ter apanhado tamanho susto, para resultar este texto tão ternurento:))
Bons sonhnos!
JPD, valeu!
:)))
Lindo. No teu estilo contido mas de uma ternura comovente. **
Penso que mesmo superada a morte e o destino a filosofia continua a existir
primeiro o frio gélido...depois o eterno calor das mil e uma noites. Perfeito!
beijos e boa semana
Um texto comovente. Gostei imenso.
Boa semana.
o texto esá lindamente escrito...a imagem é altamente expressiva...e os diálogos sérios têm muito humor...o que não é fácil...perante a morte e o destino.
abraços
voltei para dizer que deixei um selo no lado direito do meu blog para ti, caso o queiras recolher
beijos
Nesta maré de crise, parece-me um nicho de mercado interessante: o da produção de sacos de água quente. Particularmente, os da linha "emoções".
Uma nota pessoal: nunca percebi porque haviam os sacos de ser apenas de água; porque não de chá quente? Não é muito mais interessante ser aquecido por uma infusão?
Caro José,
Algumas edições na blogosfera -por via dos condimentos utilizados pelos autores, são de tal modo saborosas que (talvez por isso mesmo) se prestam a comentários que, umas vezes as subsidiam, outras as completam e outras ainda lhes mudam o rumo sem lhes alterar o destino.
Esta é uma delas. Da morte apenas sonhada (que para mim seria um pesadelo) para o "texto ternurento", passando pelo "nicho de mercado de sacos de água quente", é a minha vez: "que se passa Zé? porque são verdes as letras da verificação de palavras? esperança em dias melhores lá para os lados de Alcochete?"
abraço.
Olá Jotadêpê!
Cá estamos. Desta vez, creio que sem problemas. Mas, quem sabe? Tive um ror de chatices com o Google, o Gmail, uma data de porras! Mas, aparentemente os imbróglios estão ultrapassados. Assim seja. De qualquer forma – mudei tudo uma vez mais. Por isso, regista, por favor:
hantferreira@gmail.com
www.aminhatravessadoferreira.blogspot.com
Espero que seja esta a versão definitiva deste meu (e teu) blogue. Já bastou o que bastou. Apenas deixo aqui um propósito: continuar o que já tinha(mos) feito e, da minha parte, tudo fazer para que ele seja ainda melhor do que os anteriores, «mortos em combate» por fuzilamento provisório…
Vem aqui, como já o fizeste nos dois outros «definitivelmente» falecidos na generalidade e na especialidade, enterrados e desgraçados (RIP). Deixa comentários, escreve, colabora, manda fotos – insulta-me se assim o entenderes. Os gordos têm costas largas… Fico à tua espera, com esperança qb e uma pitada de ansiedade. Sal, pimenta e coentros, a teu gosto. Bom apetite. Bem-vinda(o)
Abs!
(o Legível anda daltónico ou foi à bola?...)
Bem... Tomo a liberdade de escrever aqui, portanto, devia ter o bom senso de deixar um comentário ao post e não aos comentários... Mas o post está lindo!!!
Eu adorei o texto, tão bonito, tão filosófico, e tão emotivo ;)
:)) Serenade, serenade :))
:)É melhor explicar o comentario anterior: como aludes às mil e uma noites, lembrei-me de Sherazade e como afinal estavas vivo, merecias uma serenata :) assim "serenade" seria a musica em que Sherazade te envolveria :))
lélé:
Hoje são vermelhas!!
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