1.
A nossa casa do Douro, em Cinfães, está á venda.
Argumento de venda: estar construída sobre dois socalcos; não haver um único obstáculo que se interponha entre a casa, o rio e a margem oposta; finalmente, ser de fácil acesso.
No primeiro socalco, num amplo espaço arrelvado com piscina, abre-se o logradouro com capacidade para dois carros e uma falsa edificação pergolada para a piscina e para vale. Uma área assim, tão extensamente envidraçada, garante repouso, protecção dos ventos e a paisagem única do vale e das encostas vinhateiras.
No socalco mais abaixo, abre-se a casa com a sua ordenação tradicional onde prepondera uma ampla sala com lareira e uma extensa varanda sob a pérgola.
No socalco mais abaixo, abre-se a casa com a sua ordenação tradicional onde prepondera uma ampla sala com lareira e uma extensa varanda sob a pérgola.
2.
Já não me lembro se foi em Lamego ou em Resende, não interessa, que passámos por uma take away e comprámos comida para o nosso jantareco.
Estávamos realmente cansados.
A viagem fora demorada. Apanhámos imenso trânsito.
Um duche bem quente não amolece.
Não nos tendo excedido no vinho, só o cansaço justificaria a lassidão física.
Acendi muitas velas amarelas e laranja, a minha paleta favorita, e fui elogiada. O Luis achou o ambiente admirável.
Conversámos imenso.
Para não atrasar o amanhecer, calámo-nos.
Não fomos lá para baixo, para o quarto. Trouxe um edredão, abrimos o sofá e, cingidos, tentámos adormecer.
Penámos por encontrar conforto e apaziguamento, tamanha era a euforia!
Estávamos realmente cansados.
A viagem fora demorada. Apanhámos imenso trânsito.
Um duche bem quente não amolece.
Não nos tendo excedido no vinho, só o cansaço justificaria a lassidão física.
Acendi muitas velas amarelas e laranja, a minha paleta favorita, e fui elogiada. O Luis achou o ambiente admirável.
Conversámos imenso.
Para não atrasar o amanhecer, calámo-nos.
Não fomos lá para baixo, para o quarto. Trouxe um edredão, abrimos o sofá e, cingidos, tentámos adormecer.
Penámos por encontrar conforto e apaziguamento, tamanha era a euforia!
3.
De manhã, levantei-me com fome. Fui á cozinha e preparei dois batidos. Sei lá quantos crackers comemos -- Dois, três, talvez quatro. Tantos! -- Adormecemos novamente.
É claro que já não foi um sono profundo e solto. Lembro-me, sim, de sentir-me afagada pelo Luís e experimentar uma volúpia indescritível. Fizemos amor, naturalmente. Mas eu não me lembrei que tinha temporizado a abertura do cortinado para aquela hora. Estaria estabelecida por defeito? O que é facto é que ela ocorreu quando exultávamos de prazer.
O Luís ainda fez um brevíssimo staccato.
Controlou-se.
Salvámo-nos!
Cinco minutos depois, ainda não sabia o que dizer-lhe.
Paciente, aguardou mais uns instantes.
Depois disse-me «Até agora, malgré cela, tudo tem estado perfeito.» Beijei-o. «Um amigo meu tem um barco excelente para fins-de-semana. Gostarias de experimentar, Ana? -- Claro!» Fez uma pausa «Já nos imaginaste no alto mar, a dar azo aos nossos caprichos, a beijarmo-nos, a fazer amor... -- Seria óptimo, Luís!» Ele «O que farias tu, Ana, se de repente, o canto suave, melodioso, inebriante e irresistível de uma sereia, fazendo-se ouvir, lá das profundezas, me enlouquecesse ao ponto de me fazer atirar borda fora, ao seu encontro? -- Nada. Desligava a programação da abertura do cortinado e atirava ao mar o Ipod que atarraxaste ao ouvido e que já me está a enervar!»
É claro que já não foi um sono profundo e solto. Lembro-me, sim, de sentir-me afagada pelo Luís e experimentar uma volúpia indescritível. Fizemos amor, naturalmente. Mas eu não me lembrei que tinha temporizado a abertura do cortinado para aquela hora. Estaria estabelecida por defeito? O que é facto é que ela ocorreu quando exultávamos de prazer.
O Luís ainda fez um brevíssimo staccato.
Controlou-se.
Salvámo-nos!
Cinco minutos depois, ainda não sabia o que dizer-lhe.
Paciente, aguardou mais uns instantes.
Depois disse-me «Até agora, malgré cela, tudo tem estado perfeito.» Beijei-o. «Um amigo meu tem um barco excelente para fins-de-semana. Gostarias de experimentar, Ana? -- Claro!» Fez uma pausa «Já nos imaginaste no alto mar, a dar azo aos nossos caprichos, a beijarmo-nos, a fazer amor... -- Seria óptimo, Luís!» Ele «O que farias tu, Ana, se de repente, o canto suave, melodioso, inebriante e irresistível de uma sereia, fazendo-se ouvir, lá das profundezas, me enlouquecesse ao ponto de me fazer atirar borda fora, ao seu encontro? -- Nada. Desligava a programação da abertura do cortinado e atirava ao mar o Ipod que atarraxaste ao ouvido e que já me está a enervar!»
21 comentários:
Se o Luís tinha alguma dúvida em relação aos sentimentos da Ana em relação a ele, depois desta inteligente resposta, as duvidas (com toda a certeza) desvaneceram-se!
Um excelente fim de semana para ti.
Beijinhos e até breve.
;O)
"Nunca se deve voltar aonde já se foi feliz"
Eu já voltei...e voltei a ser feliz.
Mas...foi apenas o início visual desta (mais uma ) brilhante narrativa, onde enquadras (sabiamente) mistérios para exercício dos leitores. Aliás, deixa-me dizê-lo, o escritor está ao "serviço" dos leitores...há quem assim não pense...não é o meu caso.
Depois, a imagem que destaca a edição...é um apelo à arte, e um sorriso ao gosto.
Gostei. Um abraço.
O pior de tudo é sempre o retorno à realidade.
Ao correr da imaginação ( ou da memória?), uma história bm narrada.
Quanto ao título, acho que não é bem assim...
"Nunca se deve voltar aonde já se foi feliz" ...
Creio que isso depende muitas das circunstâncias... e cada caso é um caso... por vezes semelhantes a tantos outros, e no entanto tão únicos...
Mas está excelente a narrativa, nesse olhar rápido, onde se retrata aspectos fucrais... e onde recaídas, nem sempre são sinónimo de boas notícias... nem a solução e/ou saída...
Quando o mal já está feito e o cura não há, que remédio!
Gostei, jinhos
O acordar para a realidade é sempre abrupto
Uma bela narrativa num estilo que muito aprecio.
Beijos.
Quanto ao título, não sei. Podemos ser felizes de outra forma. Nunca será igual, essa é que é a questão.
Agora a narrativa está deliciosa e inteligente. Estas novas tecnoligias só estragam o romance, está visto...
Viva JPD!
Fazes uma narrativa excelente...acredito no eterno retorno, mas sempre com novos acordes e variações...pois a felicidade no pico é sempre única em cada cenário...
Estou inteiramente de acordo com o título do teu post...
e afinal os dois pombinhos foram felizes...para sempre? A casa do Douro é outro negócio.
abraços
é tb a minha "versão"....
o reduto da felicidade deve ser a pilastra do encanto....:)
beijo.
se a lareira continuar e os sentimentos não tiverem desaparecido...o regresso pode ser sempre pensado.
Gostei de me envolver nas tua spalavras
beijos
Fosse eu corajoso e ia ao itunes procurar pelo canto de sereias - perdição dos homens em mp3. Benditos tempos modernos.
Acho que vou ao itunes procurar canto de baleias. Não é a mesma coisa, mas tem também frescura marinha.
Desde o título que me fascinou.
xDD Eu ri-me com o texto!
Era capaz de comprar a casa, mas por causa da cortina já me passou a euforia... eheheh...
Tenho dúvidas acerca do título do post, mas sempre será mais seguro dizer "Nunca se deve voltar aonde já se foi infeliz". Mas neste caso também tenho dúvidas... o melhor será perguntar a um sociólogo ou coisa que o valha...
Excelente texto, como sempre.
Abraço.
O título provocou-me tristeza... Espero que esteja errado, porque é sempre muito bom voltar onde se foi feliz.
Beijinhos
Clara
Caro José:
Um belo texto a ilustrar que "aquela" felicidade dificilmente se repete, talvez daí o "lugar-onde" associado ao título.
Não é por acaso que exclamamos por exemplo: "Ah! que belas férias que foram aquelas em X!" Podemos lá voltar mil vezes que os pormenores que foram a soma de tão magnífico tempo, jamais se voltarão a verificar.
abraço.
Em complemento ao que escrevi algures no meu blogue,... acrescenta-se mais um pormenor...:) e que é, a simplicidade de apenas se ESTAR, com quem nos dá a sentir a..."insustentável leveza do ser"...:)))
Gostei de ler.
Uma boa semana
Olá! Quebrei o meu silêncio e voltei. Assim resolvi vir passear pelo teu blog e como sempre foram belos os momentos que aqui passei. Jhs
Olá. Vim aqui á procura de qualquer coisa, não sabendo ao certo o que poderia esperar encontrar. De caminho pelos dois ultimos pot's, descobri que era um abrigo textual como este o que pretendia. Gostei muitíssimo do que li aqui, e da citação abaixo. Acho que estão perfeitas! Obrigada pelo momento traquilzador que me proporcionou. Um abraço. Até breve. Azul.
Eu bem precisava assim de um descanso...
O título lembra-me a nostalgia das memórias, que invadem sem pedir licença, o olhar de quem recorda...
A narrativa, contudo, plena de vida e humor, afasta qualquer nostalgia...ai as sereias ainda a povoarem os pensamentos dos homens! :)
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