Nas máquinas do multibanco está a ser publicitado este vinho da Região Demarcada do Alentejo Monte Do Enforcado
Viva com paixão!
Um vinho com este nome seria servido n'«O Banquete» de Platão?
Acalentaria «In Vino Veritas» de Kierkegaard?
Em «Reviver o Passado em Brideshead» Evelyn Waugh apresenta uma personagem aristocrática que, quando lhe é diagnosticada uma doença mortal, comenta para os seus botões: «Morrer, eu? Mas se sempre bebi do melhor clarete...!»
«Badenweiler, 2 de Julho de 1904Ao assistirem aos derradeiros momentos de um colega, os médicos russos e alemães praticam o singular ritual de partilhar uma taça de champanhe com o doente. Não se conhecem as origens deste ritual, que se pode interpretar como um gesto de estoicismo profissional perante a morte ou uma extrema-unção laica. Seja qual for o seu significado, a verdade é que aplicado ao moribundo Anton Tchekov teve o mais inesperado dos resultados. Serviram-lhe o champanhe e, logo após ter bebido o que parecia ser a última gota, Anton caiu para lado, como morto, segundo quanto previsto. Depois, os colegas aproximaram-se para verificar o óbito e deram-se conta de que ele ainda estava vivo, ajeitando-o no cadeirão. Passados instantes, Tchekov abriu os olhos, pareceu não entender por que razão estavam sobre si debruçados três médicos e uma enfermeira com rostos inquisitivos, sorriu e pediu outra taça de champanhe, que prontamente lhe foi servida. O prof. Schworer, dr. Buhl e a enfermeira Fraulein Emilie ficaram suspensos a aguardar o efeito da segunda taça, mas nada aconteceu do que tinham antecipado, considerando o estado de extrema fragilidade a que a tuberculose reduzira o escritor. Antes pelo contrário, as cores voltaram-lhe ao rosto e ele começou a conversar serenamente com os colegas, encantando a enfermeira com a sua bem entoada voz de barítono, que retomara toda a sua vibração. Sentindo a garganta seca, pediu uma terceira taça de champanhe. Os médicos hesitaram, cedendo, por fim, e bebendo com ele, por se tratar da vontade de um homem condenado.
Condenado, sim, mas mais devagar, terá pensado Tchekov. Ele bem sabia que a medicina tinha as suas fraquezas e que desgraçadamente não só não era capaz de encontrar as curas certas, como era incapaz de explicar as curas para as quais não tinha contribuído. (...)»
Fonte: «Os Dias Contados» Jose Sasportes, Dom Quixote
Vou tomar um trago. Voltarei!