sexta-feira, 20 de março de 2009

POST(o) EM SOSSEGO

Beijinhos e abraços


quinta-feira, 12 de março de 2009

«Viagem»


Gentileza Google



O beijo da quilha
na boca da água
me vai trocando entre céu e mar,
o azul de outro azul,
enquanto
na funda transparência
sinto a vertingem
de minha própria origem
e nem sequer já sei
que olhos são os meus
e em que água
se naufraga minha alma

Se chorasse, agora,
o mar inteiro
me entraria pelos olhos

(Fevereiro 1984)


Fonte:
«POESIA»
Mia Couto
Ed. FrenteVerso (Visão)

sábado, 7 de março de 2009

TANTO MAR


Gentileza Google


1.

São nove da manhã.
Acabei de me sentar na "Confeitaria do Monte", aqui na Guia.

Manhã soalheira.
Mar azul forte e calmo.
É de uma brincadeira que se trata se pensar que este mesmo mar é capaz de tremendas fúrias na Boca do Inferno e hoje, displicente, parece satisfeito lambendo, calmo e apaziguado, o rodapé da falésia.
O contraste entre o azul do mar e o cerúleo do céu, a linha do horizonte afinal, tão perfeita, tão exuberante, irrepreensível na sua definição, deveriam reconfortar-me.
Competia-me aproveitar tamanha placidez.
Mas não.
Dispor de todos este privilégios para nada, entristece-me.

O Raul pediu, e eu, tonta, ainda aceitei conceder-lhe a manhã para sair lá de casa.
«Quando voltar não quero ver cá em casa uma única coisa tua, ouviste? -- Uma sequer!»
«Só preciso de uma hora!»
«Dou-te duas!»

O batido de morango estava bom; o croissant com fiambre, nem por isso.

Comprei um diário, um semanário e uma revista, para nada.
Não consigo ler.


2.

A Isabel, a minha ex-mulher, enviou lá para casa um postal -- Quem é que ainda envia postais numa época destas! -- «Se afinal não te sentes feliz, a hipótese de reatarmos é viável. Beijos!»

Como é que uma armadilha tão rasca é tão eficaz?

A ideia de roturas incompletas ou de "um pé lá e outro cá" inquina qualquer relação.

A confiança quebrou-se.
Insanável.
Uma verdadeira atrocidade.
A Ana recusou ouvir-me.
Só me restava sair.
Demorei meia-hora.


***


Convidei-as para celebrarmos o meu aniversário.
Almoçaríamos, livres das desavenças antigas.
Aceitaram.

Quando o estafeta quis entregar as pizzas, a confusão no restaurante excedeu a tolerância dos empregados e das senhoras.
Uma em cada mesa, ignorando-se e espumando de raiva estiveram prestes a explodir.

Ausente, passeava-me pela cidade.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

ESTA MANHÃ


Metro de Lisboa Estação das Olaias
Gentileza Google


Esta manhã, na estação do metro das Olaias, entrou um sujeito irrepreensivelmente escanhoado mas com uma nuvenzinha de creme de barba em cada lóbulo das orelhas.

Uma senhora ao meu lado sorriu e, ao olhar para mim, fez um esgar pedindo-me que fosse cúmplice do seu escárnio.

À tarde, passei pela 5àSec para recolher um casaco de meia estação e deixar um blazer.
Vesti o casaco.
A jovem não me avisou, eu não reparei: os botões das mangas do casaco estavam protegidos por pratas.

Entrei na estação do metro do Marquês. Havia um lugar vago. Sentei-me.
A senhora à minha frente sorriu.


Eu...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

«CARTAS DA TERRA»


«O Criador sentou-se no trono a pensar. Atrás dele o ilimitável continente celeste, mergulhado numa glória de luz e cor; diante dele erguia-se, como um muro, a noite negra do Espaço. O Seu descomunal vulto torreava escarpado, como uma montanha, contra o zénite, e a Sua cabeça divina resplandecia ao longe como um sol distante. A Seus pés, estavam três colossais figuras, diminuídas quase até à extinção, por contraste -- arcanjos --, as cabeças ao nível do osso do Seu tornozelo.
Quando Cristo acabou de pensar, disse:
-- Pensei. Vede!

Levantou a Sua mão, e dela brotou um jacto de fogo, um milhão de estupendos sóis, que fenderam a treva e alaram para longe, para muito longe, diminuindo em magnitude e intensidade à medida que atravessavam as longínquas fronteiras do Espaço, até que, por fim, não eram mais do que cabeças de prego adamantinas a cintilarem debaixo do imenso telhado abobadado do universo
(...)» (Pg.7)

(...)


CARTA DE SATANÁS: «Este é um lugar estranho, um lugar extraordinário e interessante. Não há nada que se assemelhe por aí. As pessoas são todas loucas, os outros animais são todos loucos, a terra é louca. O homem é uma curiosidade maravilhosa. Quando está no seu melhor, e uma espécie de anjo niquelado de baixa categoria; no seu pior, é inqualificável, inimaginável; e, tudo considerado e a toda a hora, é um sarcasmo. Apesar disso, intitula-se, de modo lisonjeiro e com toda a sinceridade, a «mais nobre obra de Deus». É verdade, isto que vos conto. E esta ideia não é novidade nele: ele tem-na discutido ao longo dos tempos e acreditado nela. Acreditado nela, e não encontrou ninguém em toda a sua raça que se risse disso. (...) »(Pg.13)

Fonte:

«CARTAS DA TERRA»
Mark Twain
Ed. Bertrand

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

«O Estranho Caso de BENJAMIN BUTTON»


Sinopse:

Na noite da celebração do fim da I Grande Guerra nasceu em New Orleans uma criança com a aparência e a condição física de um idoso de 70 anos.
A progenitora morreu no parto.
O pai, devastado, rejeita a criança abandonando-a à porta de uma casa de acolhimento de desvalidos.
Um casal de negros adopta-a e decide chamar-lhe Benjamin.

Gateau, um relojoeiro cego, é contratado para para construir um relógio à escala da grandiosidade da estação de comboios da cidade.
Para sua infelicidade, o filho é uma das vítimas mortais da Grande Guerra.
Gateau não hesita. Constrói o relógio com o movimento dos ponteiros invertido.

Contexto histórico:

Os primeiros 50 anos da História do Sec. XX foram devastadores pelas sequelas de (i) Grande Guerra 14-18; (ii) Depressão de 1929 e (iii) Grande Guerra 39-45.

Esta perspectiva preenche a primeira fase do filme; a segunda, estende-se desde a década de 50 até 2005: o «Baby-boom», a mudança de estilo de vida, as novas oportunidades, a distribuição da riqueza das nações a proporcionar bem-estar inédito, até ao flagelo de New Orleans pelo Katrina.

É na passagem da primeira para a segunda fase que Benjamin, maduro, fulgurante, vivido, transita das atrocidades do quotidiano para ma socialização amena e cheia de afectos.
Virá a ser pai.
Depois de fazer o seu «Grand Tour», regressa para um último relacionamento com a mulher, já casada com outro homem, preparando assim o início da adolescência, a fase pré-natal a seguir, para que a narrativa da sua mulher à filha de ambos -- Em fase terminal no hospital -- termine antes do Katrina fustigar a cidade.

O Tempo Cronológico e o tempo Biológico:

Gateau não se resignou à morte do filho. Por essa razão, o sublimador encontrado foi a inversão do movimento dos ponteiros do relógio: revisão da cronologia.; o presente, relativamente ao passado, a memória trocada pelo exercício do esquecimento da atrocidade da guerra, da morte de um jovem, fixando-se no tempo de vida do filho, apenas isso contando, enquanto ele foi feliz.

A mãe adoptiva de Benjamin, também não se resignou à impossibilidade de ter uma criança, tratando Benjamin como seu filho natural.
Num sentido equivalente, Benjamin caminha para a concepção, para a combinação «XY», mantendo-se vivo e resplandecente, com os olhos postos nesse «futuro» nesse «grau zero», nesse «eterno retorno», sem arrastar o «bom senso» da experiência, a sageza, o que fosse que tivesse acumulado, nada, absolutamente nada, esvaziando-se determinado para os braços da mulher, de Daizy. Não é que desejasse esquecer, ia acontecendo-lhe não se lembrar...

A Memória, o Esquecimento e o Legado:

Daizy fez questão de se deixar morrer só depois de a filha Carolina aceder a esse legado para que o pai a merecesse orgulhosa, de certa maneira íntima de uma conduta extraordinariamente tenaz, através do Diário.

O filme termina com a inundação de cidade, a morte de Daisy, a emoção de Carolina, o bébé Benjamin nos braços de Daisy, frustrando dessa maneira Woody Allen -- É que seu sonho aplicar-se-ia se Daisy, em vez de ser sua mulher, fosse a mãe de Benjamin. -- que chegou a desejar uma segunda vida que, retrocedendo também, iria mais além «Voilá! -- Desaparecer num orgasmo.»

A ideia de que a felicidade está no começo e não no fim da vida partiu de Mark Twain, foi aproveitada por F. Scott Fitzgerald para escrever a obra (Ed. Presença), foi glosada por W. Allen e, para nosso deleite, exibida neste filme que demonstra que «O tempo é sinal da nossa impotência.» Acrescento eu, com a ajuda de Proust: mesmo que se busque o tempo perdido, jamais se alcançará o tempo reencontrado...

O Diário de Benjamin -- Escrito com zelo de homem de idade -- estaria adequado à sua cronologia? É que a partir de certa idade, um jovem vive. Só excepcionalmente escreverá sobre o seu quotidiano fugaz... Um adolescente, então, só pensará em divertir-se, brincar...

Admito que a comparação seja excessiva: com «Forrest Gump», a História da América era excelentemente contada; com este «Benjamin Button», completa-se uma diliciosa narrativa.

Finalmente: é a primeira fase da nossa vida a melhor ou, a idade madura -- a dos «entas», dos 40 a 60 -- a que proporcionará dias admiráveis?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Agradeço e retribuo


Agradeço a tua gentileza, Fernanda
http://naruacontigo.blogspot.com


Retribuindo com o



PRÉMIO «A GAIOLA DE DARWIN»



(Cumprindo o protocolo
A ordem seguida não corresponde a qualquer hierarquização)

nomeio:

http://palavrasemdesalinho.blogspot.com
http://ortografiadoolhar.blogspot.com
http://mendesferreira.blogspot.com
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http://comorosasdeareia.blogspot.com
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http://vieiracalado-poesia.blogspot.com